1
Antes
Quinta feira, 21 de fevereiro
de 2067
A aula de historia estava distante para
Anthony Belfrost, seu pensamento viajava no campeonato de vídeo game que ele
esperava havia meses, por sorte havia conseguido permissão para ir á cidade
naquele dia.
A sua vida no ensino médio não era a
mais normal, ele não era como os outros garotos, tinha poucos amigos, não
gostava de se comunicar com outras pessoas, tirando o fato de achar todos a sua
volta um bando de acéfalos ignorantes. Seu QI era acima da media e suas notas
fazia com que todos sentissem inveja de Anthony.
Mas isso não fazia de Anthony um
superdotado solitário, ele tinha amigos, talvez um pouco menos solitário que
ele. Os Bangel eram uma mistura engraçada e interessante de amigos, Amélia
Bangel possuía um QI ainda maior que o de Anthony e era a garota mais bela que
ele conhecera na sua vida, e por quem era apaixonado desde o dia que se
tornaram amigos.
Havia ainda Carlos Bangel, irmão mais
novo de Amélia e uma das pessoas mais excêntricas e admiráveis que Anthony
conhecesse. Infelizmente ele era um ano mais novo e por isso não podiam estudar
na mesma sala, algo que sempre incomodava Anthony.
-...
Foi durante essa época que o conflito na parte oriental do mundo ocasionou a
junção de todos os países asiáticos formando uma única superpotência... –
Ensinava o professor com a voz monótona.
De repente seu pensamento se voltou
para Amélia sentada duas carteiras a sua direita, ela estava tão linda, Anthony
nunca conseguira explicar oque fazia ele se sentir daquele jeito com ela por
perto, era algo sobrenatural. Sem ligar para oque o professor falava continuou
observando-a, seus cabelos negros jogados no ombro decorando seu rosto branco
como a neve, era como se tudo em seu corpo formasse algo harmônico e
maravilhoso.
- É claro que o senhor Anthony Grant
pode nos explicar quais foram os fatores que ocasionaram a formação da URO e
UPA – falou o professor Rooskey sorrindo com desdém para Anthony.
- Mas é claro – Respondeu Anthony com o
mesmo sorriso – o motivo dessa união foi unicamente para acabarem com as
disputas nessas regiões evitando uma possível terceira guerra que poderia
ocorrer num futuro, por esse motivo elas foram chamadas de Terras de Paz.
-
Sim... Certa resposta senhor Belfrost.
Anthony continuou sorrindo enquanto o
professor retornava sua atenção para o resto da classe, aquela pequena
brincadeira fez com que Anthony se sentisse mais entediado, aquela escola o
fazia se sentir entediado. Ir para lá foi um dos poucos erros que Anthony
cometera na vida.
Olhou discretamente na direção de
Amélia e viu que ela havia entendido a pequena brincadeira que ele fizera, em
resposta ela sorria para ele entendendo seu tedio.
“Já vai acabar” ela sussurrou.
-... Por causa da formação desses dois
novos países houve o surgimento de grupos radicais...
A luz apagou de repente.
Os gritos dos alunos tomaram conta da
sala de aula, algo que Anthony odiava. Ainda era nove horas da manhã, e a
escola ficava longe da cidade provavelmente tinha sido algo extraordinário que
causara aquela queda de energia. Algo que não era muito comum de se
acontecer...
-
Silencio, silencio, silencio! - Gritava o professor tentando controlar os
alunos arruaceiros - A luz já deve voltar em alguns minutos!
A
escuridão tomava conta da sala que, agora, era iluminada por apenas alguns
raios de luz que vinham da pequena janela na porta.
-
Oque esta acontecendo? – Gritou uma voz inconformada.
-
Queremos sair daqui, está escuro!
-
Fiquem calmos! Não vai demorar muito para ligarem os geradores. – O professor
respondia tão nervoso quanto os alunos.
Foi
então que um dos seguranças da escola entrou pela porta e sussurrou algo no
ouvido de Rooskey. Anthony não pode ver seu rosto, mas sabia que algo de errado
estava acontecendo, ele sentia isso.
O
professor simplesmente olhou para aquele caos que reinava na sala de aula e
saiu andando na direção do corredor.
-
Os celulares não estão funcionando! - gritou alguém.
Os
alunos ficaram apavorados, alguns soltaram gritos esganiçados como o de um
animal ferido. Não demorou muito para a sala ficar cheia de gritos de agonia,
era como se todos ali tivessem perdido um membro do corpo.
Sem
o professor na sala, um por um os alunos foram saindo para o pátio da escola.
Anthony estava estranhando o fato de que nenhum segurança havia aparecido para
conter a turba de alunos, o pensamento de que algo ruim estava acontecendo não
parava de sair de sua mente. Depois de alguns minutos a sala ficou quase vazia,
só então ele começou a pensar sobre oque estava acontecendo, mesmo que de vez
em quando era possível ouvir alguém gritando algo sem sentido do lado de fora
da sala de aula.
O
fato da energia e dos celulares pararem de funcionar significava que aquilo era
o resultado de uma explosão de PEM, algo que só poderia ser feito naturalmente
pelo sol ou um ataque nuclear. De qualquer forma ele teria que atravessar o
muro da escola para conferir o estado da cidade.
-
Vai ficar sentado ai ate quando? – A voz doce de Amélia preencheu toda a sala.
Amélia
estava parada na porta da sala, a luz do sol batendo em suas costas a fazia
parecer um anjo, ela sorria com o mesmo desdém que Anthony usara com o
professor.
-
Estive pensando...
-...
O fato dos celulares pararem de funcionar... – Ela completou a frase.
Isso
não o surpreendeu, afinal os dois tinham praticamente, sempre, a mesma linha de
raciocínio oque fora um dos principais motivos para terem se tornado amigos.
Ela
entrou na sala ficando ao lado de Anthony.
-
Significa que algo grande esta acontecendo, e que nos somos apenas um figurante
nessa história – Anthony continuou pensativo – Queria poder sair da escola para
checar se em Golden Phoenix esta tudo ok...
-
Mas primeiro temos que encontrar Carlos – Ambos falaram juntos deixando um
clima constrangedor no ar.
A
risada de Carlos entrou na sala e novamente ao mesmo tempo os dois sorriram no
escuro.
-
Serio mesmo que vocês estão falando ao mesmo tempo? – Seu sorriso era enorme.
Ele
estava vestindo suas roupas normais para um garoto de colégio interno, short
jeans, blusa preta de uma banda de rock pesado que Anthony nunca ouvira falar e
seus novos óculos que haviam chegado há uma semana.
-
Ainda bem que você resolveu aparecer – Caminhando na direção do amigo – Estava
começando a pensar que teríamos de deixar você para trás.
-
Vamos aonde amiguinho?
-
Dar uma olhada na cidade.
Anthony
havia chegado naquela escola numa fase turbulenta de sua vida, a fase mais
sombria pela qual tinha passado algo que ele fazia questão de que nunca mais
aconteceria. Por causa de suas ações sem logica ele havia sido matriculado numa
escola para crianças problemáticas, era uma escola rígida para crianças
diagnosticadas com problemas psicológicos e provável desenvolvimento de
psicose, coisas que podiam ser controladas se descobrissem com antecedência.
Mas
Anthony não era um psicopata.
A
escola ficava na área rural de Golden Phoenix, no coração da grande URO, não
era uma metrópole, sendo que a mais próxima estava a uns quinhentos quilômetros
de distância, ao redor havia apenas agricultores, florestas e bosques.
O
internato em si parecia mais uma prisão de segurança máxima do que uma escola,
os dormitórios eram subterrâneos e todas as entradas eram vigiadas por torres
de vigilância com guardas no portão e em cima delas.
Para
sorte de Anthony, Amélia conhecia aquela escola muito melhor que ele, e
conhecia um lugar onde o muro tinha um ponto fraco. Os riscos eram altos, se
aquilo não passasse de uma queda de energia, eles poderiam sofrer punição por
terem saído dos domínios de St. May.
-
Vai ser fácil chegar lá – Amélia sussurrou para os amigos enquanto caminhava um
ao lado do outro.
Ela
tinha razão, os alunos assustados estavam amontoados no pátio da escola
conversando alto ignorando qualquer ordem dos adultos. Eles atravessaram
tranquilamente o pátio e chegaram a um corredor sem saída com uma única porta
de metal no final.
Ela
entrou no que Anthony achou ser uma sala e no final se revelou ser um corredor
estreito que estava todo preenchido por latas de lixo que os alunos da escola
produziam. Amélia parou de andar quando os amigos chegaram, ela virou para trás
e sorriu com a mesma graça que sempre fazia para Anthony.
-
Ok... Como saímos? – Anthony perguntou confuso.
-
Assim.
Ela
tirou uma lata de lixo que estava encostada na parede e, um buraco se revelou
no muro.
-
Uma vez eu vi um casal fugindo por aqui – Amélia contou pensativa - Nunca
descobri quem tinha feito, apenas o encontrei.
-
Primeiro as damas – Carlos provocou.
Sem
responder, ela se abaixou e engatinhou na direção do buraco, quando sumiu ela
sumiu de vista Carlos se abaixou enquanto Anthony olhava para trás, inquieto,
ele não parava de pensar o quanto era irresponsável oque estavam fazendo
naquele momento, se fossem as punições seriam gigantescas.
Quando
Anthony atravessou, finalmente, em meses, pode ver algo que não fosse os muros
da escola. Eles estavam na área mais elevada de Golden Phoenix, ao redor da
escola havia apenas um imenso bosque feito por árvores gigantescas, mais a
frente havia também algumas fazendas, campo aberto e uma estrada asfaltada que
levava para a cidadezinha. Havia também
a catedral, com suas duas torres ambas equipadas com um sino muito potente que
tocava de três em três horas.
A
energia havia sumido as oito... Já deveriam ter se passado uma hora, então era
provável que ela houvesse acabado também na cidade. Uma teoria terrível
começava surgir na mente de Anthony, aquilo não parecia ser natural, muito
menos um defeito na energia elétrica...
...Estava
mais para um ataque militar...
-
Todos os alunos que estão fora da sala de aula devem retornar para seus
dormitórios, em alguns minutos nosso gerador irá ser ativado – A voz de um
homem ecoou pelo megafone – Quem estiver no pátio da escola ira sofrer com as
terríveis consequências...
-
Anthony... – Amélia sussurrou preocupada.
-
Temos que ir – Anthony falou consigo mesmo.
Carlos
se apressou e agachou para voltar dentro de St. May. Mesmo assim Anthony não
aguentou, sua curiosidade era maior, enquanto seus amigos se viravam para
voltar à escola ele simplesmente parou e observou a cidade com esperança de
encontrar a peça que faltava para explicar tudo que estava acontecendo.
Não
havia nada... Apenas alguns pássaros que planavam no final da cidade, não era
como se planassem... Eles estavam estáticos não faziam nenhum movimento, claro
que ele estava longe para ter certeza, mas dava para ver que eles não se
moviam.
-
Tem algo errado...
Carlos
já havia entrado na escola e Amélia estava agachada quando essas palavras
chegaram ao seu ouvido. A voz no megafone continuava a ditar advertências para pessoas
fora de seus dormitórios.
Os pássaros sumiram de repente num
clarão, em seguida um estrondo como o de mil trovoes ecoou no ouvido de
Anthony.
Não eram pássaros, era uma bomba
nuclear...
-
Corre – Berrou olhando para Amélia – Corre agora!
Ela
se agachou desajeitada engatinhando novamente pelo buraco enquanto Anthony
observava a onda de impacto empurrando arvores e qualquer coisa física na
direção da escola. A força invisível o jogou contra a parede, por sorte Amélia
já havia entrado em St. May.
Por
um segundo ele teve a impressão do tempo ter parado, era como se tudo tivesse
petrificado instantaneamente ao seu redor.
Em
seguida, tudo voltou ao normal.
E a dor em sua perna o acordou daquele
bizarro delírio surreal, fazendo o possível para ignora-la ele se levantou a
tempo de ser engolido por uma parede de poeira verde, enquanto lá dentro Amélia
berrava desesperada tentando voltar para socorrer o amigo.
Seus olhos queimavam, estava tudo
coberto por um verde pálido. Ela demorou alguns segundos para entender que
aquilo era a névoa que havia engolido seu melhor amigo, aquilo estava tão denso
que Amélia não conseguia enxergar dois metros a sua frente.
- Amélia? – Carlos sussurrou.
Ele estava sentado encostado na parede,
sua mão parecia ferida, talvez tivesse sido aquele maldito impacto do que quer
que fosse.
-
Você esta bem? – Ela sussurrou de volta.
Sua garganta estava doendo.
- Não.
- Nem eu.
- Desmaiamos por quanto tempo?
- Não sei... Eu acabei de acordar Lia.
Era um apelido que só ele e Anthony
conheciam. Carlos sorriu para ela, um sorriso enfraquecido pela nevoa esverdeada.
- Anthony? – Amélia pensou de repente –
Onde ele esta?
- Eu não... Vamos encontrar ele...
Se ele estivesse ali provavelmente
teria dado algum sinal, talvez tivesse caído ladeira a baixo e estava
desacordado em algum lugar no bosque ao redor do internato.
- Sua perna esta sangrando... – Amélia
sussurrou quando viu o sangue na perna do irmão.
- Acho que voei de mau jeito
Subitamente ela sentiu a vontade de levantar,
a dor que veio em seguida fez seu estomago embrulhar. Lentamente ela tocou na
perna, a dor veio novamente, estava lesionado, provavelmente por causa do
impacto.
- Consegue levantar?
- Acho que sim.
Usando a mão boa – ela percebeu - ele
se apoiou no chão levantando rapidamente e fingindo não sentir dor. Amélia
amava isso em seu irmão, ele sempre tentava minimizar as coisas ruins, mesmo
que tudo estivesse extremamente pior do que poderia se imaginar.
Ele
a ajudou se levantar, enquanto seus pensamentos distantes estavam no que teria
resultado tudo aquilo: quando ela acordara estava jogada no chão, o impacto
deveria ter feito bater a cabeça na parede e desmaiar em seguida. Era a
conclusão mais obvia que poderia ter naquelas circunstancias, mesmo que sua
hipótese não fosse solida do que teria causado tudo aquilo. Se Anthony
estivesse ali... Quando ela e seu irmão haviam entrado em St. May, ao mesmo
tempo a poeira engoliu Anthony. Isso só aconteceu porque ele viu algo que
talvez explicasse a falta de energia. Amélia havia pensado na teoria de um
pulso eletromagnético ter sido jogado em toda área de Golden Phoenix, se
estivesse certa - oque ela realmente não queria – aquilo se tratava de um
ataque militar ou terrorista.
-
Anthony... – sussurrou sua garganta parecia ter sido derretida.
-
Vamos encontra-lo... Eu prometo – Carlos sussurrou de volta.
Lentamente
Amélia se pendurou no braço bom do irmão e juntos foram mancando na direção da
porta de metal do corredor. Estava muito difícil enxergar, parecia uma eternidade
atravessar aquele cômodo de no máximo seis metros. Finalmente quando eles
encontraram a porta tiveram que usar toda a força que restava para abrir.
- Tem alguém ai?
Amélia perguntou aumentando o nível da voz,
enquanto colocava o pé dentro do corredor da escola.
Um
gemido distante ecoou pelo corredor.
- Carlos, oque foi isso?
A visão ainda estava embaçada por causa
da nevoa verde, mesmo assim Carlos não conseguiu desviar a mente da irmã
daquela terrível visão de dezenas de corpos que preenchia o pátio da escola.
Nenhum comentário:
Postar um comentário