sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Homens Sombras (RELATOS) PT 4


Tomei consciência das sombras logo após se mudar para minha casa em Nova Jersey. Playground dos meus filhos estava no porão e elas ficavam constantemente reclamando que havia “sombras” lá embaixo. Meu caçula também disse que uns pairavam perto do teto.
Nos últimos anos, instalei minha oficina no porão e os vi com certa frequência. Chegou a um ponto aonde eu até tentei falar com eles usando a minha mente, não que eles já responderam de volta.
Eles eram negros e esfumaçados. Ficam o tempo todo no porão, principalmente nos cantos das paredes, aonde é mais escuro. Ocasionalmente aparecem no primeiro andar, na cozinha, perto da porta dos fundos, por onde a escuridão se alastra. Tornou-se natural a convivência com esses seres.
Mesmo quando não conseguimos vê-los, sabíamos que estavam presentes. Alguns deles ser uma presença maligna, ficávamos mal quando apareciam e eles pareciam nos encarar. Outros eram neutros, pareciam apenas vagar pela escuridão, sem saber o que faziam.
Poucos anos depois nos mudamos, eu disse que eles não eram bem-vindos na nova casa. Ainda assim, tivemos a sensação desconfortável da presença deles. Nenhuma medida que tomamos os fez ir embora. Era como algo que grudava em você e não saia mais. Nem reza, nem água benta ou qualquer tipo de feitiçaria afastou-os. Todavia, sem sabermos o porquê, um dia, eles sumiram.
Somente uma vez, durante todo esse tempo, consegui ver o que presumo ser a verdadeira forma deles. Aconteceu em uma fração de segundo. Eu estava andando da sala para a cozinha. A luz da cozinha estava iluminando tudo, inclusive os cantos. Entrando na cozinha vi um vulto num movimento muito rápido. Fiquei surpreso. Pensei que alguém tinha entrado em casa. Tudo aconteceu muito rápido. Devagar, fui investigar o local para onde o vulto foi. Ele se moveu rapidamente e para fugir teve que atravessar um raio de luz. Era um ser pequeno e atarracado com uma silhueta de uma pessoa. Tinha uma cabeça, sem qualquer expressão, olhos, boca e nariz. Também aparentava não ter ombros e braços. A cor daquilo que o cobria (ou pelo menos parecia que cobria, poderia ser apenas uma extensão desse ser ) era um preto absoluto. Desapareceu muito rápido, na primeira fresta escura que encontrou.
Semanas após o encontro nossa casa pegou fogo. Mesmo nas ruínas, era possível sentir a presença deles. Aquela sensação ruim que emanavam.

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