Oiwa era uma bela jovem que viveu na pequena cidade de Yotsuya, no Japão, por volta do ano 1600. Era casada com Iemon, um ronin, do qual esperava o primeiro filho. Iemon era muito amado pela esposa, apesar de passar por graves problemas financeiros. Com o tempo, a falta de perpectivas passou incomodar Iemon, que passou a ser uma pessoa irritada e deprimida
Iemon se sentia sufocado pelo amor e felicidade de sua esposa e iniciou um relacionamento extraconjugal com Oume, uma jovem muito rica. Oume se apaixonou por ele e, cerca de seis meses do início do caso, seu pai foi até Iemon exigindo que tomasse uma atitude, pois era uma vergonha sua filha namorar um homem casado. Também fazia muitas promessas de uma boa vida caso se casasse com Oume.
Durante muito tempo, Iemon pensou nas propostas do pai de Oume, mas não conseguia encontrar uma maneira de se separar de Oiwa. Por fim, decidiu que o único modo de se tornar livre para casar novamente seria matando Oiwa e o filho que ela carregava em seu ventre. Iemon teceu uma terrível trama para envenenar sua esposa, e fazer com que parecesse uma morte por causas naturais. Enquanto isso, Oiwa seguia feliz, se preparando para a vinda do bebê e alheia ao destino que o marido traçava para ela.
Iemon colocou seu plano em prática e envenenou a comida que Oiwa preparara para o jantar. A esposa insistiu para que ele se alimentasse, mas ele declinou, alegando estar sem apetite. Oiwa jantou sozinha e poucos minutos depois o veneno começou a fazer efeito.
O envenenamento deixou o belo rosto de Oiwa desfigurado e, antes que ficasse inconsciente, contemplou Iemon ao seu lado, que apenas a observava, sem oferecer qualquer ajuda.
Achando que seu plano havia sido executado com sucesso, Iemon colocou o corpo de sua esposa sobre a cama. Porém, após algumas horas, Oiwa acordou de seu coma sem se lembrar de qualquer detalhe sobre seu envenenamento. O veneno deixou seu rosto horrível, e matou seu filho, mas ela sobreviveu.
Iemon, fingindo estar preocupado, cuidou de Oiwa até que recuperasse sua saúde. Todavia, todos os dias pensava em uma forma de matá-la. Assim, logo que sua esposa se recuperou, ele a convidou para uma caminhada e, ao chegar a um penhasco a beira-mar, a empurrou para a morte.
Quando o corpo de Oiwa foi recuperado Iemon gastou todo o dinheiro que lhe restava em um belo funeral para demonstrar sua “devoção marital”, afinal, agora estava livre, e em pouco tempo não precisaria mais se preocupar com as questões financeiras.
Passado algum tempo, na véspera de seu casamento com a rica Oume, Iemon percebeu que a luminária de seu quarto estava ficando com a luz cada vez mais fraca. Ao olhar para a chama viu o rosto desfigurado de Oiwa e ouviu uma voz fantasmagórica dizer: “traição!”. Iemon golpeou o lampião com um pedaço de pau e foi dormir, achando que a aparição era efeito da grande quantidade de álcool que havia tomado durante o dia.
Na outra manhã Iemon não se lembrava mais do acontecimento da noite anterior. Ele e Oume tiveram um lindo casamento. No entanto, ao levantar o véu para beijar sua nova esposa, foi o rosto horrível de Oiwa que viu. Ela sussurou “traição!” e Iemon, horrorizado com aquela visão, desembainhou sua espada e cortou a cabeça da esposa morta. A cabeça rolou pelo chão e, ao parar, Iemon percebeu que, na verdade, havia cortado a cabeça de Oume.
Iemon escutou um som bem fraco de risos e, com medo, correu para sua casa. No seu encalço ia o pai de Oume, que esmurrava a porta do casebre exigindo que Iomen a abrisse. Ao destrancar a porta, novamente era Oiwa quem estava lá, sussurando “Traição. Traição.”. Mais uma vez lançou a lâmina afiada de sua espada contra o fantasma, percebendo no momento seguinte, que havia matado seu sogro.
Enlouquecido, Iemom correu para os precipícios escutando o riso de Oiwa que parecia vir de todas as direções. Ao chegar ao despenhadeiro, parou e olhou para o mar, que batia forte contra as rochas dezenas de metros abaixo dele.
Por um instante, parecia ter mudado de opinião quanto a se suicidar, mas já não importava mais. Pessoas que o seguiam disseram ter visto o fantasma de Oiwa empurrar Iemom do penhasco e mergulhar no vazio atrás dele, rindo durante toda a queda.
O corpo de Oiwa supostamente está sepultado no templo Myogyo-ji, em Yotsuya, que agora é um bairro de Tóquio. A data de sua morte é 22 de fevereiro de 1636.
Yotsuya Kaidan é a história de fantasmas mais famosa do Japão. Foi adaptada para o cinema mais de 30 vezes e até hoje influencia os filmes de terror japoneses. Em várias produções feitas para televisão e cinema sobre esta história ocorreram acidentes misteriosos, ferimentos e mortes. Passou então a ser uma tradição os atores principais e diretores das adaptações de Yotsuya Kaidan fazerem uma peregrinação até o túmulo de Oiwa para pedir-lhe permissão e benção para as filmagens.
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