sábado, 30 de janeiro de 2016

Capitulo 1 - Incidente em Phoenix

1
Antes
Quinta feira, 21 de fevereiro de 2067
       A aula de historia estava distante para Anthony Belfrost, seu pensamento viajava no campeonato de vídeo game que ele esperava havia meses, por sorte havia conseguido permissão para ir á cidade naquele dia.
         A sua vida no ensino médio não era a mais normal, ele não era como os outros garotos, tinha poucos amigos, não gostava de se comunicar com outras pessoas, tirando o fato de achar todos a sua volta um bando de acéfalos ignorantes. Seu QI era acima da media e suas notas fazia com que todos sentissem inveja de Anthony.
         Mas isso não fazia de Anthony um superdotado solitário, ele tinha amigos, talvez um pouco menos solitário que ele. Os Bangel eram uma mistura engraçada e interessante de amigos, Amélia Bangel possuía um QI ainda maior que o de Anthony e era a garota mais bela que ele conhecera na sua vida, e por quem era apaixonado desde o dia que se tornaram amigos.
         Havia ainda Carlos Bangel, irmão mais novo de Amélia e uma das pessoas mais excêntricas e admiráveis que Anthony conhecesse. Infelizmente ele era um ano mais novo e por isso não podiam estudar na mesma sala, algo que sempre incomodava Anthony.
         -... Foi durante essa época que o conflito na parte oriental do mundo ocasionou a junção de todos os países asiáticos formando uma única superpotência... ­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­– Ensinava o professor com a voz monótona.
         De repente seu pensamento se voltou para Amélia sentada duas carteiras a sua direita, ela estava tão linda, Anthony nunca conseguira explicar oque fazia ele se sentir daquele jeito com ela por perto, era algo sobrenatural. Sem ligar para oque o professor falava continuou observando-a, seus cabelos negros jogados no ombro decorando seu rosto branco como a neve, era como se tudo em seu corpo formasse algo harmônico e maravilhoso.
         - É claro que o senhor Anthony Grant pode nos explicar quais foram os fatores que ocasionaram a formação da URO e UPA – falou o professor Rooskey sorrindo com desdém para Anthony.
         - Mas é claro – Respondeu Anthony com o mesmo sorriso – o motivo dessa união foi unicamente para acabarem com as disputas nessas regiões evitando uma possível terceira guerra que poderia ocorrer num futuro, por esse motivo elas foram chamadas de Terras de Paz.
- Sim... Certa resposta senhor Belfrost.
         Anthony continuou sorrindo enquanto o professor retornava sua atenção para o resto da classe, aquela pequena brincadeira fez com que Anthony se sentisse mais entediado, aquela escola o fazia se sentir entediado. Ir para lá foi um dos poucos erros que Anthony cometera na vida.
         Olhou discretamente na direção de Amélia e viu que ela havia entendido a pequena brincadeira que ele fizera, em resposta ela sorria para ele entendendo seu tedio.
         “Já vai acabar” ela sussurrou.
         -... Por causa da formação desses dois novos países houve o surgimento de grupos radicais...
         A luz apagou de repente.
         Os gritos dos alunos tomaram conta da sala de aula, algo que Anthony odiava. Ainda era nove horas da manhã, e a escola ficava longe da cidade provavelmente tinha sido algo extraordinário que causara aquela queda de energia. Algo que não era muito comum de se acontecer...
- Silencio, silencio, silencio! - Gritava o professor tentando controlar os alunos arruaceiros - A luz já deve voltar em alguns minutos!
A escuridão tomava conta da sala que, agora, era iluminada por apenas alguns raios de luz que vinham da pequena janela na porta.
- Oque esta acontecendo? – Gritou uma voz inconformada.
- Queremos sair daqui, está escuro!
- Fiquem calmos! Não vai demorar muito para ligarem os geradores. – O professor respondia tão nervoso quanto os alunos.
Foi então que um dos seguranças da escola entrou pela porta e sussurrou algo no ouvido de Rooskey. Anthony não pode ver seu rosto, mas sabia que algo de errado estava acontecendo, ele sentia isso.
O professor simplesmente olhou para aquele caos que reinava na sala de aula e saiu andando na direção do corredor.
- Os celulares não estão funcionando! - gritou alguém.
Os alunos ficaram apavorados, alguns soltaram gritos esganiçados como o de um animal ferido. Não demorou muito para a sala ficar cheia de gritos de agonia, era como se todos ali tivessem perdido um membro do corpo.
Sem o professor na sala, um por um os alunos foram saindo para o pátio da escola. Anthony estava estranhando o fato de que nenhum segurança havia aparecido para conter a turba de alunos, o pensamento de que algo ruim estava acontecendo não parava de sair de sua mente. Depois de alguns minutos a sala ficou quase vazia, só então ele começou a pensar sobre oque estava acontecendo, mesmo que de vez em quando era possível ouvir alguém gritando algo sem sentido do lado de fora da sala de aula.
O fato da energia e dos celulares pararem de funcionar significava que aquilo era o resultado de uma explosão de PEM, algo que só poderia ser feito naturalmente pelo sol ou um ataque nuclear. De qualquer forma ele teria que atravessar o muro da escola para conferir o estado da cidade.
- Vai ficar sentado ai ate quando? – A voz doce de Amélia preencheu toda a sala.
Amélia estava parada na porta da sala, a luz do sol batendo em suas costas a fazia parecer um anjo, ela sorria com o mesmo desdém que Anthony usara com o professor.
- Estive pensando...
-... O fato dos celulares pararem de funcionar... – Ela completou a frase.
Isso não o surpreendeu, afinal os dois tinham praticamente, sempre, a mesma linha de raciocínio oque fora um dos principais motivos para terem se tornado amigos.
Ela entrou na sala ficando ao lado de Anthony.
- Significa que algo grande esta acontecendo, e que nos somos apenas um figurante nessa história – Anthony continuou pensativo – Queria poder sair da escola para checar se em Golden Phoenix esta tudo ok...
- Mas primeiro temos que encontrar Carlos – Ambos falaram juntos deixando um clima constrangedor no ar.
A risada de Carlos entrou na sala e novamente ao mesmo tempo os dois sorriram no escuro.
- Serio mesmo que vocês estão falando ao mesmo tempo? – Seu sorriso era enorme.
Ele estava vestindo suas roupas normais para um garoto de colégio interno, short jeans, blusa preta de uma banda de rock pesado que Anthony nunca ouvira falar e seus novos óculos que haviam chegado há uma semana.
- Ainda bem que você resolveu aparecer – Caminhando na direção do amigo – Estava começando a pensar que teríamos de deixar você para trás.
- Vamos aonde amiguinho?
- Dar uma olhada na cidade.


Anthony havia chegado naquela escola numa fase turbulenta de sua vida, a fase mais sombria pela qual tinha passado algo que ele fazia questão de que nunca mais aconteceria. Por causa de suas ações sem logica ele havia sido matriculado numa escola para crianças problemáticas, era uma escola rígida para crianças diagnosticadas com problemas psicológicos e provável desenvolvimento de psicose, coisas que podiam ser controladas se descobrissem com antecedência.
Mas Anthony não era um psicopata.
A escola ficava na área rural de Golden Phoenix, no coração da grande URO, não era uma metrópole, sendo que a mais próxima estava a uns quinhentos quilômetros de distância, ao redor havia apenas agricultores, florestas e bosques.
O internato em si parecia mais uma prisão de segurança máxima do que uma escola, os dormitórios eram subterrâneos e todas as entradas eram vigiadas por torres de vigilância com guardas no portão e em cima delas.
Para sorte de Anthony, Amélia conhecia aquela escola muito melhor que ele, e conhecia um lugar onde o muro tinha um ponto fraco. Os riscos eram altos, se aquilo não passasse de uma queda de energia, eles poderiam sofrer punição por terem saído dos domínios de St. May.
- Vai ser fácil chegar lá – Amélia sussurrou para os amigos enquanto caminhava um ao lado do outro.
Ela tinha razão, os alunos assustados estavam amontoados no pátio da escola conversando alto ignorando qualquer ordem dos adultos. Eles atravessaram tranquilamente o pátio e chegaram a um corredor sem saída com uma única porta de metal no final.
Ela entrou no que Anthony achou ser uma sala e no final se revelou ser um corredor estreito que estava todo preenchido por latas de lixo que os alunos da escola produziam. Amélia parou de andar quando os amigos chegaram, ela virou para trás e sorriu com a mesma graça que sempre fazia para Anthony.
- Ok... Como saímos? – Anthony perguntou confuso.
- Assim.
Ela tirou uma lata de lixo que estava encostada na parede e, um buraco se revelou no muro.
- Uma vez eu vi um casal fugindo por aqui – Amélia contou pensativa - Nunca descobri quem tinha feito, apenas o encontrei.
- Primeiro as damas – Carlos provocou.
Sem responder, ela se abaixou e engatinhou na direção do buraco, quando sumiu ela sumiu de vista Carlos se abaixou enquanto Anthony olhava para trás, inquieto, ele não parava de pensar o quanto era irresponsável oque estavam fazendo naquele momento, se fossem as punições seriam gigantescas.
Quando Anthony atravessou, finalmente, em meses, pode ver algo que não fosse os muros da escola. Eles estavam na área mais elevada de Golden Phoenix, ao redor da escola havia apenas um imenso bosque feito por árvores gigantescas, mais a frente havia também algumas fazendas, campo aberto e uma estrada asfaltada que levava para a cidadezinha.  Havia também a catedral, com suas duas torres ambas equipadas com um sino muito potente que tocava de três em três horas.
A energia havia sumido as oito... Já deveriam ter se passado uma hora, então era provável que ela houvesse acabado também na cidade. Uma teoria terrível começava surgir na mente de Anthony, aquilo não parecia ser natural, muito menos um defeito na energia elétrica...
...Estava mais para um ataque militar...
- Todos os alunos que estão fora da sala de aula devem retornar para seus dormitórios, em alguns minutos nosso gerador irá ser ativado – A voz de um homem ecoou pelo megafone – Quem estiver no pátio da escola ira sofrer com as terríveis consequências...
- Anthony... – Amélia sussurrou preocupada.
- Temos que ir – Anthony falou consigo mesmo.
Carlos se apressou e agachou para voltar dentro de St. May. Mesmo assim Anthony não aguentou, sua curiosidade era maior, enquanto seus amigos se viravam para voltar à escola ele simplesmente parou e observou a cidade com esperança de encontrar a peça que faltava para explicar tudo que estava acontecendo.
Não havia nada... Apenas alguns pássaros que planavam no final da cidade, não era como se planassem... Eles estavam estáticos não faziam nenhum movimento, claro que ele estava longe para ter certeza, mas dava para ver que eles não se moviam.
- Tem algo errado...
Carlos já havia entrado na escola e Amélia estava agachada quando essas palavras chegaram ao seu ouvido. A voz no megafone continuava a ditar advertências para pessoas fora de seus dormitórios.
         Os pássaros sumiram de repente num clarão, em seguida um estrondo como o de mil trovoes ecoou no ouvido de Anthony.
         Não eram pássaros, era uma bomba nuclear...
- Corre – Berrou olhando para Amélia – Corre agora!
Ela se agachou desajeitada engatinhando novamente pelo buraco enquanto Anthony observava a onda de impacto empurrando arvores e qualquer coisa física na direção da escola. A força invisível o jogou contra a parede, por sorte Amélia já havia entrado em St. May.
Por um segundo ele teve a impressão do tempo ter parado, era como se tudo tivesse petrificado instantaneamente ao seu redor.
Em seguida, tudo voltou ao normal.
         E a dor em sua perna o acordou daquele bizarro delírio surreal, fazendo o possível para ignora-la ele se levantou a tempo de ser engolido por uma parede de poeira verde, enquanto lá dentro Amélia berrava desesperada tentando voltar para socorrer o amigo.
        

         Seus olhos queimavam, estava tudo coberto por um verde pálido. Ela demorou alguns segundos para entender que aquilo era a névoa que havia engolido seu melhor amigo, aquilo estava tão denso que Amélia não conseguia enxergar dois metros a sua frente.
         - Amélia? – Carlos sussurrou.
         Ele estava sentado encostado na parede, sua mão parecia ferida, talvez tivesse sido aquele maldito impacto do que quer que fosse.
- Você esta bem? – Ela sussurrou de volta.
         Sua garganta estava doendo.
         - Não.
         - Nem eu.
         - Desmaiamos por quanto tempo?
         - Não sei... Eu acabei de acordar Lia.
         Era um apelido que só ele e Anthony conheciam. Carlos sorriu para ela, um sorriso enfraquecido pela nevoa esverdeada.
         - Anthony? – Amélia pensou de repente – Onde ele esta?
         - Eu não... Vamos encontrar ele...
         Se ele estivesse ali provavelmente teria dado algum sinal, talvez tivesse caído ladeira a baixo e estava desacordado em algum lugar no bosque ao redor do internato.
         - Sua perna esta sangrando... – Amélia sussurrou quando viu o sangue na perna do irmão.
         - Acho que voei de mau jeito
         Subitamente ela sentiu a vontade de levantar, a dor que veio em seguida fez seu estomago embrulhar. Lentamente ela tocou na perna, a dor veio novamente, estava lesionado, provavelmente por causa do impacto.
         - Consegue levantar?
         - Acho que sim.
         Usando a mão boa – ela percebeu - ele se apoiou no chão levantando rapidamente e fingindo não sentir dor. Amélia amava isso em seu irmão, ele sempre tentava minimizar as coisas ruins, mesmo que tudo estivesse extremamente pior do que poderia se imaginar.
Ele a ajudou se levantar, enquanto seus pensamentos distantes estavam no que teria resultado tudo aquilo: quando ela acordara estava jogada no chão, o impacto deveria ter feito bater a cabeça na parede e desmaiar em seguida. Era a conclusão mais obvia que poderia ter naquelas circunstancias, mesmo que sua hipótese não fosse solida do que teria causado tudo aquilo. Se Anthony estivesse ali... Quando ela e seu irmão haviam entrado em St. May, ao mesmo tempo a poeira engoliu Anthony. Isso só aconteceu porque ele viu algo que talvez explicasse a falta de energia. Amélia havia pensado na teoria de um pulso eletromagnético ter sido jogado em toda área de Golden Phoenix, se estivesse certa - oque ela realmente não queria – aquilo se tratava de um ataque militar ou terrorista.
- Anthony... – sussurrou sua garganta parecia ter sido derretida.
- Vamos encontra-lo... Eu prometo – Carlos sussurrou de volta.
Lentamente Amélia se pendurou no braço bom do irmão e juntos foram mancando na direção da porta de metal do corredor. Estava muito difícil enxergar, parecia uma eternidade atravessar aquele cômodo de no máximo seis metros. Finalmente quando eles encontraram a porta tiveram que usar toda a força que restava para abrir.
         - Tem alguém ai?
 Amélia perguntou aumentando o nível da voz, enquanto colocava o pé dentro do corredor da escola.
Um gemido distante ecoou pelo corredor.
         - Carlos, oque foi isso?

         A visão ainda estava embaçada por causa da nevoa verde, mesmo assim Carlos não conseguiu desviar a mente da irmã daquela terrível visão de dezenas de corpos que preenchia o pátio da escola.

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